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quarta-feira, 15 de abril de 2009

O QUE É VENDIDO NAS IGREJAS?

Por: Marcelo Rebello
 
No tempo de Jesus Cristo, o evangelho era pregado de uma forma pura, sendo o foco principal o sacrifício do filho de Deus em favor dos pecadores, sem distinção alguma. Poderiam ser eles pobres, ricos, feios ou bonitos... Até mesmo o paradigma do judaísmo foi quebrado, tendo em vista que através do Apóstolo Paulo o evangelho deixou de ser exclusivo para os judeus e estendeu-se aos gentios (nome que se dava a toda a pessoa não-judia). Entre os "mecanismos" de divulgação na época, Jesus utilizou-se muito bem de ferramentas de massa, por meio de uma mensagem carismática, forte e de personalidade. Era comum ver Jesus Cristo contando histórias ao ar livre para multidões de pessoas. Outra ferramenta eram os sinais e prodígios, que faziam com que a sua fama corresse rápido pelas aldeias israelitas.
Os judeus, nessa época, estavam vivendo sob uma colonização romana, que ao contrário da medo-persa e da babilônica não interferia na cultura e na religião dos povos colonizados, antes tinha um interesse mais político e econômico, sendo até mesmo cruéis, utilizando-se de métodos sub-humanos na manutenção da paz e da ordem.
Que Jesus Cristo detinha consigo o poder de influenciar as pessoas é fato consumado. No entanto, a despeito da mensagem de amor, fé e esperança de Cristo, os judeus esperavam que o messias prometido fosse um líder político e não um libertador espiritual.
A mensagem de uma vida pós-morte de paz e harmonia era bem-vinda desde que viesse aliada à libertação político-econômica do sistema de colonização romano, tornando Israel um estado independente.
É de se admirar que mesmo depois de 2 mil anos, a mensagem de Jesus Cristo seja tão forte a ponto de atrair seguidores e admiradores no mundo todo (aliás, a própria história se divide em antes e depois de Cristo). Outro fator determinante para o sucesso da mensagem foi o ícone utilizado por Jesus Cristo como fixador na mente das pessoas de seu sacrifício de dor e sofrimento em prol da humanidade: a Cruz. Tão fácil de fazer que até uma criança de 3 anos pode rabiscar... Mas ao mesmo tempo, tão forte e tão terrível sofrimento traz consigo que é impossível tornar-se despercebido!
Após a morte de Jesus Cristo na cruz, o evangelho começou a ser pregado pelos apóstolos com sucesso, atraindo muitos seguidores. A tônica era o "negue-se a si mesmo e carregue a sua cruz" e "o amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo". Os novos convertidos estavam tão envolvidos com a nova fé, que vendiam seus bens, abandonavam seus trabalhos e viviam em comunidade, compartilhando entre si e de igual modo de todos os recursos financeiros e sociais. Era comum após a conversão as pessoas trazerem aos pés dos apóstolos todos os seus bens.
A história começou a ficar ruim quando o Estado enxergou o crescimento desta nova religião e começou a perseguir os precursores da nova fé que liberta (do diabo e dos impostos do governo).
Portanto, a igreja primitiva tinha como premissa de sua pregação a libertação do espírito e a cura dos males da alma, desprezando o egocentrismo e o capitalismo e valorizando os laços eclesiásticos, familiares e sociais, com vistas a uma comunidade mais perfeita e justa.
Este evangelho, no entanto, foi sendo distorcido: a primeira grande distorção foi a visão de Constantino e a criação da Igreja Católica Apostólica Romana. Depois vieram os muçulmanos, budistas, adventistas, e outros istas, e istos... que traduziam a seu bel prazer as doutrinas bíblicas. Pode-se notar que, em sua grande maioria, as seitas e heresias nasceram de uma visão espiritual ou de alguma conversa com alguma entidade...
Desta maneira, deixou-se de "vender" Jesus Cristo e começou-se a vender "conceitos e valores" nas igrejas.
Em vez da mensagem de fé e esperança, os líderes espirituais começaram a vislumbrar o potencial econômico dos seus fiéis e a exercer sobre os liderados uma influência em que a tônica deixou de ser a salvação da alma, tornando-se a prioridade o gozar terreno das bendicitudes divinas.
Neste contexto, duas correntes protestantes (ou seja, derivados da reforma luterana) se destacaram com técnicas parecidas mas com públicos-alvo e mensagens diferentes: o pentecostalismo e o neo-liberalismo.
No pentecostalismo a tônica é a mensagem sensacionalista, recheada de manifestações, sinais e músicas barulhentas com fundo afro-brasileiro. A mensagem principal é a "glória de Deus que desce do céu", o restabelecimento da alma através da manifestação extraordinária de sinais de cura. Outro fator preponderante é a "receita da fé", que promete bênçãos financeiras para aqueles que oferecerem sacrifícios de fé, e neste caso, além dos reais, valem dólares, jóias, carros, e qualquer outra coisa que possa ser vendida e revertida em receita para os templos e demais "necessidades cristãs".
Já no caso dos neo-liberais, a  mensagem vem com um fundo mais intelectualizado e, em alguns casos, bem jovial. São reuniões com uma boa mensagem com forte fundo emocional, regadas a muito rock'n'roll e atividades sociais, que valorizam muito mais o status financeiro e social do indivíduo do que a solução para os seus problemas espirituais. Entre as prioridades estão mensagens que valorizam o combate ao stress e à solidão (os males que atacam a classe média-alta da população).
Outra diferenciação é que os templos pentecostais geralmente estão situados nas grandes concentrações de massa da periferia, enquanto os neo-liberais geralmente se ocupam de antigos cinemas ou teatros dos grandes centros urbanos, geralmente em bairros elitizados.
Os pentecostais apregoam um evangelho mais popular, com mensagens que valorizam as áreas de saúde, financeira e dos problemas familiares e sentimentais (afinal, é namoro ou amizade?). Os neo-liberais, por sua vez, apregoam um evangelho mais elitizado, com mensagens que se utilizam de palestras inteligentes e reflexivas, sempre buscando o equilíbrio emocional e afetivo. Isto dá-se, também, pelo motivo de as classes mais baixas não terem acesso à cultura, que os deixa mais vulneráveis aos ardilos de líderes mal-intencionados, que se utilizam de técnicas de persuasão para vender as soluções populares que estas pessoas vislumbram para seus problemas cotidianos. Na contramão deste sistema, no entanto, seguem os neo-liberais que têm um maior padrão sociológico e cultural, que faz com que tenham naturalmente um filtro que os faz refletir mais e emocionar-se menos. A técnica empregada, neste caso, é a personalização da mensagem, entregando sob medida soluções para as suas aflições, em troca do investimento de recursos e tempo para a "obra missionária".
Sem dúvida alguma, uma das maiores diferenças entre o evangelho de Jesus Cristo e o contemporâneo é que o foco do mestre eram os valores celestes, enquanto que nas igrejas atuais dá-se mais ênfase nas vantagens de se ter a garantia de melhores dias aqui mesmo na Terra...
Quer um terreno no céu? Ou será que uma BMW e uma boa casa em Alphaville já são o suficiente???
Ah, se sobrar algum tempo, após realizar todos os seus sonhos de consumo, você ainda corre o risco de conhecer um tal de Jesus Cristo... Mas aí, já é uma outra história...

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